Ao entrar em vigor no próximo mês de outubro, o Simples Doméstico vai
transportar da teoria à prática o pacote de medidas trazido pela Lei
das Domésticas, que regulamentou a relação entre essas profissionais e
seus empregadores.
Um grande avanço, sem dúvida, sob a ótica trabalhista, mas que chega
em um momento econômico onde a ordem é cortar ao máximo todos os gastos,
inclusive os da casa.
Trata-se de uma mudança que, certamente, afetará a absoluta maioria
dos patrões. Para se ter uma ideia do alcance dessa medida, dos mais de
4.500 empregadores cadastrados no aplicativo Idoméstica, apenas 22,9%
recolhem atualmente o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS),
providência que passará a ser obrigatória.
Se hoje o custo total com a doméstica que recebe o piso regional do
Rio de Janeiro, por exemplo, (R$ 953,47) é de R$ 1067,88 o valor final
passará a ser de R$ 1.144,16, com as cobranças de INSS (8%); FGTS (8%);
Fundo Compensatório (3,2%) e 0,8%, a título de seguro acidente.
O aspecto positivo é que agora todas as profissionais da categoria – e
não apenas uma pequena parcela delas – poderão utilizar o Fundo de
Garantia para o financiamento de imóveis, além de não sair de mãos
vazias após uma eventual rescisão de contrato ou aposentadoria. Os
patrões, por sua vez, terão todas as suas obrigações mensais reunidas
numa única guia.
Já o eSocial Doméstico exigirá dos empregadores, também a partir do
próximo mês, a atualização dos dados dos seus empregados envolvendo
desde a documentação básica até os benefícios previdenciários.
A principal mudança, porém, é o fim da informalidade tão arraigada em
nossa cultura com relação a períodos de férias, afastamentos
temporários e afins, pois tudo passará a ser reportado eletronicamente
ao fisco, dentro dos rigorosos prazos estipulados pela Consolidação das
Leis do Trabalho CLT),
casos em que a doméstica recebe o Bolsa Família e faz “acordo” para não
ser registrada, a fim de usufruir por mais tempo dessa concessão, ou
ainda, pede demissão para ser recontratada logo depois, a visando apenas
embolsar o FGTS, deverão se extinguir.
Tudo isso implica uma ampla mudança de cultura em pleno “país do
jeitinho”, e até pode assustar num primeiro momento, mas precisa ser
levado a sério desde já por empregados e empregadores, sob pena de a
chegada do eSocial a este segmento transformar-se, na verdade, numa
enxurrada de multas e, o que é pior, injustiças cometidas contra ambas
as partes.
O mais preocupante, no entanto, é a falta de divulgação do governo
sobre tantas mudanças a serem introduzidas em espaço de tempo tão curto.
Afinal, os empregadores terão de lidar com uma operação fiscal e
trabalhista para a qual muitos não estão preparados e num ambiente
desconhecido, o que fatalmente resultará em erros que poderão ter sérias
consequências.
Não menos grave seria a equivocada decisão de consagrar
definitivamente a informalidade neste setor e colocar por terra a tão
esperada chance que agora se apresenta de conferir a devida dignidade a
este trabalhador, assim como a desejável segurança jurídica para quem o
contrata.
*Alessandro Vieira – Diretor do Idoméstica, aplicativo especializado na gestão de empregados domésticos
Fonte: www.administradores.com.br
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